Eu sou teu livro
..........Nasci na
encosta de um outeiro. E fiquei, dentro em pouco, um pinheiro delgado e
elegante. Tão elegante que uma senhora, passando com seus filhos por perto de
mim, desejou-me para árvore de natal.
..........--Como ficará lindo carregadinho de presentes e de doces, com as velinhas de cores --exclamou uma das meninas que acompanhavam a senhora.
..........Estremeci até às raízes, pensando que logo me haviam de arrancar para, no grande e festivo dia das crianças, ir adornar o salão de uma escola ou de uma casa abastada.
..........Passaram-se, porém, muitos anos e ninguém veio buscar-me para a festa do Natal. Minhas raízes aprofundaram-se mais; meu tronco tornou-se alto e forte; estendi para o céu a ramaria possante, que as tempestades não puderam derribar. Todos os anos as pinhas enfeitavam meus galhos; e, quando amadureciam, aves, animais e homens vinham à minha sombra colher os frutos que se espalhavam pelo chão. Eu era a maior e a mais bela de todas as árvores daquela região.
..........Mas o dia funesto chegou. Um homem aproximou-se de mim, olhou-me com atenção de alto a baixo, e fez, a facão, um sinal no meu tronco. Vieram depois operários musculosos, de machado em punho; e logo estava eu deitado no solo, com os ramos partidos. Estava reduzido a um simples madeiro ? eu, o rei dos vegetais de toda aquela redondeza...!
..........Arrastaram-me, em seguida, para uma fábrica e reduziram-me a uma polpa branca. Nenhum dos meus camaradas me houvera reconhecido, quando, transformado em alvo lençol, sofria a última demão, a fim de aparecer no mercado sob a forma de papel. Que torturas padeci: os golpes mortíferos do machado, o talho agudo das lâminas que me dilaceravam, o aperto horrível de engrenagens que me esmagavam, o atrito áspero de mós que me pulverizavam, o ardor das drogas que me fizeram pálido... Depois de tudo isso, colocaram-me numa prensa, da qual saí para uma longa viagem.
..........Vendeu-me um negociante a um impressor. Fui para uma tipografia, onde novas angústias me esperavam. Puseram-me num prelo, no qual, em giros vertiginosos, palavras e gravuras eram sobre mim estampadas. Dobraram-me depois. Cortaram-me. Coseram-me. Cobriram-me com duas capas de cartão. E eis-me aqui, agora, meu amigo, para ir contigo à escola.
..........Não me maltrates nem me desprezes. Muito sofri para trazer-te a sabedoria dos antigos, as lições da experiência, a expressão dos prosadores e poetas, que enriqueceram tua língua materna e fizeram meigo e suave teu idioma.
..........Ama-me e lê-me: eu sou teu livro!
..........--Como ficará lindo carregadinho de presentes e de doces, com as velinhas de cores --exclamou uma das meninas que acompanhavam a senhora.
..........Estremeci até às raízes, pensando que logo me haviam de arrancar para, no grande e festivo dia das crianças, ir adornar o salão de uma escola ou de uma casa abastada.
..........Passaram-se, porém, muitos anos e ninguém veio buscar-me para a festa do Natal. Minhas raízes aprofundaram-se mais; meu tronco tornou-se alto e forte; estendi para o céu a ramaria possante, que as tempestades não puderam derribar. Todos os anos as pinhas enfeitavam meus galhos; e, quando amadureciam, aves, animais e homens vinham à minha sombra colher os frutos que se espalhavam pelo chão. Eu era a maior e a mais bela de todas as árvores daquela região.
..........Mas o dia funesto chegou. Um homem aproximou-se de mim, olhou-me com atenção de alto a baixo, e fez, a facão, um sinal no meu tronco. Vieram depois operários musculosos, de machado em punho; e logo estava eu deitado no solo, com os ramos partidos. Estava reduzido a um simples madeiro ? eu, o rei dos vegetais de toda aquela redondeza...!
..........Arrastaram-me, em seguida, para uma fábrica e reduziram-me a uma polpa branca. Nenhum dos meus camaradas me houvera reconhecido, quando, transformado em alvo lençol, sofria a última demão, a fim de aparecer no mercado sob a forma de papel. Que torturas padeci: os golpes mortíferos do machado, o talho agudo das lâminas que me dilaceravam, o aperto horrível de engrenagens que me esmagavam, o atrito áspero de mós que me pulverizavam, o ardor das drogas que me fizeram pálido... Depois de tudo isso, colocaram-me numa prensa, da qual saí para uma longa viagem.
..........Vendeu-me um negociante a um impressor. Fui para uma tipografia, onde novas angústias me esperavam. Puseram-me num prelo, no qual, em giros vertiginosos, palavras e gravuras eram sobre mim estampadas. Dobraram-me depois. Cortaram-me. Coseram-me. Cobriram-me com duas capas de cartão. E eis-me aqui, agora, meu amigo, para ir contigo à escola.
..........Não me maltrates nem me desprezes. Muito sofri para trazer-te a sabedoria dos antigos, as lições da experiência, a expressão dos prosadores e poetas, que enriqueceram tua língua materna e fizeram meigo e suave teu idioma.
..........Ama-me e lê-me: eu sou teu livro!
1-O que, na árvore, chamou a atenção da sem
hora?
a)o fruto
b)a cor
c)a delicadeza
d)a imponência
e)a verde folhagem
2-A senhora via, pois, no pinheiro:
a)o deslumbramento estético.
b)a finalidade comercial
c)a tranqüilidade cromática.
d)o valor alimentício
e)a finalidade literária
3-O sinal de facão indicava que:
a)o primeiro estava destinado a
transformar-se em livro.
b)terminava ali seu reinado.
c)a senhora desistira de transformá-lo em
árvore de Natal.
d)já não eram tão farto e saborosos seus
fruto.
e)a natureza vencera a ambição comercial do
homem.
4-Ao ouvir as palavras da menina, o pinheiro:
a)sentiu-se orgulhoso de seu porte e beleza.
b)temeu a perda de sua majestade vegetal.
c)agitou-se eufórico na maravilhosa
perspectiva de transformar-se em símbolo.
d)manteve-se impassível, como devem proceder
os reis.
e)constrangeu-se por não se julgar digno
daquela missão.
5-“Minhas raízes aprofundavam-se mais.” Esta
passagem sugere:
a)velhice
b)beleza
c)solidez
d)temor
e)fertilidade
6-Na tipografia:
a)o pinheiro realizou seu ideal.
b)sentiu-se aliviado em seus padecimentos.
c)preocupou-se com a manutenção de sua
realeza.
d)prolongaram-se os sofrimentos.
e)a árvore perdeu sua arrogância.
7-A expressão “alvo lençol” prenuncia:
a)a sabedoria.
b)o livro.
c)a ramaria.
d)o papel.
e)o Natal.
8-O olhar atento do homem denota:
a)curiosidade inconseqüente.
b)selvageria
c)preocupação com a salvaguarda das árvores.
d)carinho.
e)exame profissional e experiente.
9-O que fez meigo e suave nosso idioma foi:
a)o trabalho do madeirista
b)a operosidade dos tipógrafos
c)o estilo dos escritores
d)a imponência das árvores
e)a tradição do Natal
10-Justifica-se o título do texto porque:
a)o sacrifício do pinheiro foi benéfico à
humanidade.
b)a narrativa é produto da imaginação do
autor.
c)o texto é verdadeiro.
d)o narrador é o pinheiro.
e)a senhora é a árvore.
Gabarito
1-d
2-a
3-b
4-b
5-c
6-d
7-d
8-e
9-c
10-c
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