INTRODUÇÃO
Esse é um assunto muito polêmico, que tem ocupado
espaço em revistas, livros e jornais, bem como tem sido tema de palestras em
muitos seminários, principalmente nos que falam de “batalha espiritual”. A fim
de que haja um melhor entendimento sobre o tema, resolvemos estudá-lo na forma
de perguntas e respostas.
1. O PROBLEMA: Segundo os que crêem na
transmissão da maldição hereditária, mesmo os crentes em Jesus, nascidos de
novo, estão sujeitos a sofrer as terríveis conseqüências dos pecados e das
maldades praticadas pelos ancestrais, tais como doenças, insucessos na vida
financeira, no trabalho, pecados sexuais, vícios, etc..
2. HÁ BASE BÍBLICA PARA TAL ENSINO ? Segundo os
que aceitam essas idéias, elas se baseiam em Deuteronômio Ex. 20.05; Dt 28.15.
(Ler). Veremos mais abaixo.
3. LITERATURA SOBRE O ASSUNTO. Um dos livros mais
conhecidos sobre o assunto tem por título “QUEBRE A CADEIA DA MALDIÇÃO
HEREDITÁRIA”, escrito por Marilyn Hickey, editado, no Brasil, pela Associação
de Homens de Negócio do Evangelho Pleno – ADHONEP. No livro, vemos, de início,
a história de uma família, que herdou uma fazenda, nos Estados Unidos e que se
viu em grandes dificuldades: nada dava certo; pragas na plantação; dívidas;
doenças afetavam a família; lendo a Bíblia, concluíram que estavam debaixo de
uma maldição hereditária. Segundo o livro, a família orou a Deus, e quebrou a
maldição daquela terra, e ela produziu como nunca houvera acontecido.
3.1. “ESTÁ AMARRADO?” Para vencer a maldição
hereditária, dizem seus defensores, é necessário que o crente amarre o valente
e o expulse da terra, da casa ou da vida de uma pessoa ou de uma família. Isso
se baseia em Mt 12.29. Para os ensinadores da quebra da maldição hereditária,
casa pode significar “geração”. Então, é preciso amarrar o valente, que é
Satanás, para quebrar sua cadeia de maldição sobre a família, e seus
descendentes. Acontece que todo dia “amarram” o inimigo e ele continua agindo. Na verdade, o diabo só será amarrado,
mesmo, no início do Milênio (Ver Ap 20.1,2).
3.2. O
CASO JUKES-EDWARDS.
1) Da
família de JUKES, o ateu, foram pesquisados 560 dos seus descendentes: Desses,
310 morreram em extrema pobreza; 150 tornaram -se criminosos, inclusive 7
assassinos; 100 descendentes foram beberrões; mais da metade das mulheres se
prostituiu. Segundo cálculos, os descendentes de Jukes custaram ao Estado, com
suas vidas desregradas, Um milhão e duzentos e cinquenta mil dólares.
2)
Quanto à família de Jonathan Edwards, cristão praticante, com sua família,
foram pesquisados 1394 dos seus descendentes, sendo constatado o seguinte: 295
receberam diplomas universitários, sendo que 23 chegaram a ser reitores de
universidades; 65 foram professores universitários; 3 senadores dos Estados
unidos; 3 governadores estaduais, e outros, ministros enviados a nações
estrangeiras; 130 foram juizes, 100, advogados, sendo um reitor de uma
faculdade de Direito, 56 médicos, sendo um reitor da faculdade de medicina; 75
oficiais na carreira militar; 100 missionários e pregadores famosos, bem como
autores destacados; cerca de 80 desempenharam alguma função pública;3 foram
prefeitos de grandes cidades; um foi superintendente do Tesouro
norte-americano; um deles foi vice-presidente dos Estados Unidos.
4.
REFLETINDO SOBRE O PROBLEMA
4.1. A
VISITAÇÃO DA MALDADE dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração por
parte de Deus, é destinada aos que aborrecem a Deus e não a seus filhos. Com
efeito, no versículo 5 de Ex. 20, está escrito: “…Eu, o Senhor teu Deus, sou
Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta
geração daqueles que me aborrecem. No versículo 6, de Ex. 20, lemos “E faço
misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos”.
4.2.
NUMA PRIMEIRA OBSERVAÇÃO Com base nos textos citados, vemos que eles estão
inseridos no contexto dos versículos 01 a 05, abrangendo o I e II. Mandamentos
da Lei de Moisés, ditada por Deus. O primeiro mandamento, refere-se a não ter
outros deuses além do Senhor; o segundo, diz que o seu povo não deve fazer
imagem de escultura, não se encurvar a elas nem lhes servir, pois o Senhor
visita a maldade dos descendentes dos que transgridem esse mandamento.
4.3.
OS NASCIDOS DE NOVO Os filhos de Deus, salvos pelo sangue de Jesus, já estão
livres da maldição da Lei. Em Gl 3.13, lemos: “Cristo nos resgatou da maldição
da lei, fazendo-se maldição por nós: porque está escrito: Maldito todo aquele
que for pendurado no madeiro”. Esse texto deixa claro que com a morte de
Cristo, os que o aceitam ficam livres da maldição que era prevista para aqueles
que viviam no pecado, mas o aceitaram como salvador.
Outro
texto interessante é o de 2 Co 5.17, que diz: “Eis que se alguém está em
Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo”. As coisas velhas já passaram, graça a Deus. Que coisas velhas eram
essas? Sem dúvida são as coisas herdadas do passado, do velho homem, da velha
vida, coisas herdadas da família sem Deus: os maus hábitos, os maus costumes, a
idolatria (que é a causa principal da maldição, conf. Ex 20.5), as feitiçarias.
Nada disso pode atingir mais o crente fiel, pois ele está guardado debaixo da
proteção de Deus, cf. O Sl 9.1-7. “Não temerás espanto noturno nem seta que voe
de dia, nem mortandade que assole ao meio dia; ..mil cairão ao teu lado, dez
mil à tua direita, mas tu não serás atingido..”
Um
outro texto para análise é o de Ne 13.2, que diz que Balaão saiu para
amaldiçoar o povo de Israel, mas “…o nosso Deus converteu a maldição em
bênção”. No Ev. s. João, Cap 5.24, lemos que a salvação de Cristo é tão grande,
que abrange toda a existência, no passado, no presente e no futuro, se
perseverarmos até o fim. No presente: quem crê, TEM a vida eterna; No futuro:
“não entrará mais em condenação” No passado: “Já passou da morte para a vida”
4.4.
DEUS É O AGENTE DA MALDIÇÃO SOBRE OS QUE O ABORRECEM. Um outro aspecto a se
anotar é o seguinte: Em Ex 20.5 e em textos semelhantes, vemos que Deus é o
sujeito da visitação da maldade ou da maldição sobre os que lhe desobedecem.
Neste caso, perguntamos: Como Deus vai amaldiçoar a descendência daqueles que
já aceitaram a Cristo como salvador? Isso não condiz com o caráter de Deus,
revelado nas Escrituras.
Ele
não pode se contradizer, nem anular sua própria palavra. Se tomarmos com base
Dt. 28, vemos , desde o v. 1 até o 14, as bênçãos previstas por Deus para que
lhe obedecem. Ora, perguntamos, como podem tais bênçãos ocorrerem, se, ao mesmo
tempo, por causa de pecados dos antepassados, a maldição persistir sobre a
família dos servos de Deus? Parece-nos que existe uma contradição e um equívoco
sobre os que ensinam sobre a maldição hereditária no que concerne aos crentes
em Jesus.
5.
COMO ENTENDER, ENTÃO, CASOS DE DOENÇAS QUE PASSAM DE GERAÇÃO A GERAÇÃO E DE
PERTURBAÇÕES MALIGNAS SOBRE FAMÍLIAS DE CRENTES SINCEROS E FIEIS? Na verdade, há
casos em que famílias de crentes em Jesus, formadas por pessoas dedicadas e
sinceras, que sofrem problemas os mais diversos, em termos de saúde, e
adversidades financeiras e até de perturbações por parte do maligno. Segundo
entendemos, as consequências do pecado de um pai podem passar para os seus
descendentes.
1) Nos
descrentes, sim, como maldição prevista por Deus, ou como consequência natural
do pecado sobre a descendência. Um pai alcoólatra, com sífilis, certamente vai
transmitir aos seus filhos as consequências do pecado, mas não o pecado em si.
Um pai ou uma mãe aidética passa a enfermidade para o filho no ventre. Esse é
um ponto importante: o que se transmite, hereditariamente, são os efeitos do
pecado e não o pecado, pois este, segundo a Bíblia, não é hereditário. É de
responsabilidade pessoal (Ver Ez 18). A Bíblia diz em Dt 24.16: “Os pais não
morrerão pelos filhos, nem os filhos pelos pais: cada qual morrerá pelo seu
pecado”.
Vemos
aí a justiça de Deus, não permitindo que os filhos, sem culpa, herdem as
maldades dos pais, em termos espirituais, a ponto de morrerem por causa de seus
antepassados. A responsabilidade moral e espiritual é individual perante Deus.
Em Ezequiel , Cap 18, 20-22: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não
levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho; a justiça do
justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio
se converter de todos os seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus
estatutos, e fizer juízo e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas
suas transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela sua
justiça que praticou, viverá”.
Com
isso, vemos que o pecado não passa de pai para filho. O que pode passar são os
efeitos genéticos e também a influência moral dos pais sobre os filhos; estes
tendem a seguir os exemplos bons ou maus de seus pais.
2) Nos
crentes em Jesus, como consequência natural, genética e que pode ser curadas
por Deus. Não tem sentido Deus, que é justo, continuar a amaldiçoar a família
de alguém que aceitou a Jesus, sendo nova criatura, para quem “as coisas velhas
já passaram; eis que tudo se fez novo”. De igual modo, mesmo sem ser maldição
de Deus, os efeitos do pecado podem ser transmitidos de pais não-crentes para
os filhos crentes em Jesus.
Nunca,
porém, a maldição, pois quem está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas
já passaram. Eis que tudo se fez novo. Em Rm 8.1, lemos: “Portanto, agora
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo
a carne, mas segundo o espírito”. Assim, não mais condenação ou maldição para
os que estão em Cristo Jesus.. Em Rm 8.33-39, lemos que o crente pode passar
por situações as mais adversas, tais como por tribulação, angústia,
perseguição, fome, nudez, perigo, espada, mas, diz S.Paulo: “Em todas essas
coisas somos mais do que vencedores , por aquele que nos amou” . Ora, em todas
essas coisas, até passando por fome, nudez (que não é nenhuma prosperidade),
até nisto, somos mais do que vencedores e não amaldiçoados.
Nem
toda doença é fruto do pecado da pessoa nem é maldição. Vemos o caso do cego de
nascença, em Jo 9. “E passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus
discípulos lhe perguntaram, dizendo: rabi, quem pecou, este ou seus pais, para
que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim
para que se manifestem nele as obras de Deus”. Vemos aí um caso o interessante:
Nem os ancestrais pecaram, nem o homem cego. A doença ocorrera para que se
manifestassem a s obras de Deus. Jesus curou o cego e seu nome foi glorificado.
3) No caso de perturbações malignas, elas tem origem na ação do Inimigo contra
o crente e sua família e não como maldição de Deus sobre os descendentes. tais
perturbações podem ser desfeitas pelo poder maravilhoso e na autoridade do Nome
de Jesus. No exemplo do livro, em que a fazenda dos crentes era prejudicada
pela ação dos espíritos maus, originários na feitiçaria dos índios, antigos
proprietários das terras, vemos que se tratavam de ações do maligno e não da maldade
visitada por Deus.
Quando oraram ao Senhor, ele desfez o efeito
daquelas maldades. No caso dos JUKES, sua descendência foi prejudicada pela
maldade dos pais, cujos efeitos passaram para os filhos. Sem dúvida alguma,
todos eles aborreceram ao Senhor, conforme está em Ex 20.5. Por isso, Deus
visitou a maldade deles nas suas gerações. É um caso bem típico de maldição familiar herdada. Se um deles houvesse
aceitado a Jesus como salvador, tudo se faria novo. As coisas velhas da família
seriam anuladas em sua descendência, em termos espirituais. Em termos físicos,
poderiam se beneficiar da cura divina ou dos recursos médicos, colocados à
disposição do homem pelo próprio Deus.
No
caso dos descendentes de Jonathan Edwards, vemos que eles aceitaram a Jesus
como Salvador. Como consequência, a influência benéfica do exemplo dos pais se
fez sentir sobre os filhos, bem como a bênção e a misericórdia de Deus de
geração a geração.
6.
CONCLUINDO: Cremos que a visitação da maldade por Deus, sobre a terceira e
quarta geração é para os que aborrecem a Deus, e não para os nascidos de novo;
para estes, Deus tem prometido fazer misericórdia a milhares de seus
descendentes. A maldição não é transmitida diretamente e sim os efeitos do
pecado sobre os filhos. Se alguém aceita a Jesus, é nascido de novo, sua vida
está debaixo da proteção divina, não cabendo mais nenhuma condenação ou
maldição. Que Deus nos abençoe , que possamos entender as verdades espirituais
à luz da Bíblia e não de especulações doutrinárias sensacionalistas e equivocadas.
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